A Dr.a Clarisse Louro, enfermeira e docente da Escola Superior de Saúde de Leiria, aprofunda as causas da violência contra profissionais de saúde e aconselha a adoção de algumas atitudes individuais que podem tornar o ambiente de atendimento dos utentes mais tranquilo.
O ser humano é, por natureza, um ser social, um ser de relação.
Lidamos no dia a dia com diferentes tipos de pessoas. No entanto, conduzir relações interpessoais baseadas no respeito e na preocupação com o outro, nem sempre é fácil. Os comportamentos de uns afetam e condicionam os dos outros, numa dialética que frequentemente conduz à violência.
A violência no trabalho, por exemplo contra os profissionais de saúde, hoje altamente preocupante, é um dos exemplos.
Violência psicológica e verbal, mais comum, e também a mais denunciada por grande parte dos enfermeiros e médicos; mas também a violência física, e ameaças graves à integridade física dos nossos profissionais.
Os estudos dizem-nos que esta violência está relacionada com os longos períodos de tempo de espera; insatisfação com a qualidade do atendimento; reduzidas competências de comunicação; ambiente sobrelotado; mudanças inesperadas nas condições de atendimento/consulta, algumas atitudes dos profissionais, e falta de profissionais, em especial de médicos. Por outro lado, os profissionais estão cada vez mais desmotivados cansados, com más condições de trabalho, estruturas de gestão rígidas e autoritárias, condições precárias dos contratos de trabalho, tarefas ambíguas, conflitos de papéis, comunicação ineficaz, e com alguma impreparação para a gestão de conflitos.
Então, como podemos hoje contribuir para que se estabeleçam relações interpessoais baseadas no respeito de uns pelos outros?
Penso que temos aqui um grande percurso a fazer, começando pela resposta firme, rápida e eficaz a qualquer manifestação de violência. Depois: Dialogar de forma positiva, expressar com clareza e ouvir de forma atenta; aprender a ouvir para, só depois, dar opiniões; estabelecer empatia.
Sermos empáticos. A empatia, significa colocarmo-nos no lugar do outro e entender os seus sentimentos em cada situação. Quando existe esse esforço para compreender o outro, estabelece-se uma relação de respeito e cumplicidade.
É importante o modo como nos dirigimos ao outro. O tom de voz, a posição corporal…
É importante respeitar e abraçar as diferenças. Evitar pontos de conflito. Ao sentir que uma discussão começa, apenas devemos escutar.
E já que falamos de profissionais de saúde eles precisam de ser bem cuidados para nos cuidarem bem. A violência do mundo é um reflexo da violência em cada um de nós.
É preciso substituir o orgulho, a ambição o egoísmo a raiva por amor, respeito e preocupação com os outros.
Só assim conseguimos estabelecer laços de confiança, num caminho que faça sentido para as nossas vivências em comunidade.
Clarisse Louro
Docente na Escola Superior de Saúde de Leiria