Açúcar: amargo doce

O açúcar amplamente adicionado aos alimentos, não é mais do que um veneno cujos minutos de doçura e prazer na boca não compensam os de amargura e de anos de saúde perdidos ao longo da vida.

Na alimentação atual, a sacarose – o açúcar adicionado – é não só o ingrediente mais utilizado, mas também o mais nefasto. Além de constituir uma fonte de calorias vazias (sem proteínas, ácidos gordos essenciais, vitaminas, minerais ou fibras) com consequente risco de carências nutricionais, contribui ainda para o aparecimento de cáries dentárias e de inúmeras doenças associadas a desregulação metabólica que, nas últimas décadas, têm vindo a aumentar exponencialmente e a surgir em idades cada vez mais precoces, prejudicando gravemente a saúde:

 
1. Resistência à insulina e diabetes tipo 2
 

O pâncreas produz uma hormona, a insulina, que funciona como uma chave para abrir as nossas células à entrada do açúcar presente no sangue (glicose). As alterações provocadas pelo excesso contínuo de açúcar na alimentação obrigam à produção de uma maior quantidade desta hormona, de forma a manter a glicose em níveis normais. Esta adaptação temporária é designada por resistência à insulina, ou pré-diabetes. Contudo, com a continuação dos excessos alimentares e do aumento do peso, a quantidade de açúcar no sangue começa a subir porque a insulina produzida no pâncreas, que se vai esgotando, torna-se insuficiente para a remover da circulação, passando aquela pessoa a ter diabetes tipo 2. Este excesso constante de açúcar resulta num processo de “caramelização” dos vasos sanguíneos, que ficam mais rígidos e rugosos, lesando-os e conduzindo progressivamente a doença renal, oftalmológica e cardiovascular.

 
2. Hipertensão arterial, aumento do ácido úrico e do mau colesterol, fígado gordo e cirrose

O açúcar adicionado (sacarose) é constituído por duas partes: a glicose (fonte primária de energia para todas as células) e a frutose (um açúcar presente nos vegetais – como a cana de açúcar – que não produzimos e de que não necessitamos). Enquanto a glicose é armazenada naturalmente no fígado, de forma a estar disponível em situações de carência, a frutose tem de ser modificada (metabolização) para poder ser aproveitada. Durante este processo, a frutose é transformada em gordura, sendo ainda produzido ácido úrico e substâncias que promovem o aumento da tensão arterial. Parte desta gordura acumula-se no fígado, inflamando-o e dando origem ao chamado fígado gordo. Esta agressão, se persistente, pode originar “cicatrizes” que culminam em cirrose, tal como acontece com o consumo excessivo de álcool. Paralelamente, a restante gordura é libertada na corrente sanguínea, depositando-se nos vasos e contribuindo para o aparecimento de aterosclerose e doença cardiovascular.

Importa salientar que a quantidade de frutose presente na fruta, além de ser muito inferior à existente no açúcar adicionado, é acompanhada por fibras que diminuem a quantidade que é absorvida no intestino. Desta forma, é praticamente impossível serem atingidos níveis de frutose no organismo capazes de provocar as alterações nefastas descritas acima.

 
3. Desregulação da saciedade, doenças do comportamento alimentar e obesidade

Recentemente, vários estudos têm demonstrado que a frutose contida no açúcar adicionado não só é pouco saciante (ou seja, não elimina o nosso apetite), como desregula mesmo as hormonas que controlam o apetite (designadamente a grelina), promovendo o aumento da ingestão e, consequentemente, o indesejável aumento de peso.

Por outro lado, os açúcares atuam ainda nos centros cerebrais relacionados com a sensação de prazer e bem-estar, tornando-se viciantes, como se fossem drogas de adição, e perpetuando o consumo compulsivo de alimentos hipercalóricos e ricos em sal, particularmente em situações de stress emocional.

 
4. Doenças vasculares

O consumo crónico excessivo de açúcar, devido às alterações metabólicas que produz (obesidade, diabetes, aumento das gorduras no sangue – essencialmente triglicerídeos mas também colesterol – e hipertensão arterial), é um dos principais factores que estão na origem de doenças do coração (enfartes do miocárdio), acidentes vasculares cerebrais, doença vascular periférica (com amputação dos pés e pernas) e morte súbita.

 
5. Cancro

Existe uma clara associação entre o consumo excessivo de sacarose e o aparecimento de diversos tipos de cancro, nomeadamente da mama, da próstata e do intestino grosso (cólon). Se, por um lado, o aumento generalizado da inflamação estimula a multiplicação desregulada das células anormais, por outro, a disponibilidade de açúcar e de insulina alimenta-as, potenciando o seu crescimento.

Créditos: 
Artigo da pediatra Júlia Galhardo, publicado originalmente na Grande Reportagem SIC.

A autora foi responsável pela Consulta de Obesidade da Unidade de Diabetes e Endocrinologia Pediátrica do Hospital D. Estefânia, em Lisboa.

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